Paraty - O poeta Ferreira Gullar encerrou sua palestra deste sábado na Feira Literária Internacional de Paraty com uma indagação que o incomoda: por que as artes plásticas atravessam um período muito crítico? A questão surgiu depois que o poeta maranhense leu e comentou trechos de seu livro Relâmpagos, que o incentivou a falar sobre a relação entre poesia e pintura.

 

"A vanguarda atingiu todas as outras artes, que tiveram um período seguinte de recuo e, portanto, continuaram progredindo", comentou ele, com suas tradicionais gesticulações de mãos e cabelos. "A arte visual, porém, chegou a um ponto em que, ao invés de voltar a um ponto mais acadêmico e assim ter opção de prosseguimento, estagnou. Chegou-se a um ponto de, no Rio de Janeiro, ser lançado um manifesto que pregava o fim das artes visuais."

 

Ferreira Gullar criticou também a poesia concreta, movimento do qual participou em seu início, nos anos 1950, mas que logo abandonou. "A poesia concreta não existe mais, felizmente", disse. "Ela exibia uma vantagem em relação às outras porque era só teoria. Era um movimento interessante pois revelava a crise da linguagem, mas não passou disso, esgotando-se em sua construção teórica."

 

Antes de iniciar sua palestra, Gullar fez uma homenagem a Vinicius de Moraes, poeta que foi o principal responsável pela divulgação e lançamento no Brasil de Poema Sujo, obra-prima que Gullar escreveu no final da década de 1970, quando estava forçosamente exilado em Buenos Aires. Gullar lembrou de Vinicius declamando os versos de Soneto de Intimidade.

 

Em seguida, comentou os quadros As Meninas, de Diego Velázquez, e Les Demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso. Falou ainda sobre a obra de Arthur Bispo do Rosário e a escultura de Auguste Rodin. Finalmente, leu um poema, Azul e Negro, que fez para um quadro do pintor goiano Siron Franco.

 

Ubiratan Brasil