Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista Sergio Porto, desaparecido cedo demais, dizia que os ingleses estavam cada vez menos britânicos. Pois continuam, Stan e piorando. Prova disso é quem os ingleses consideram hoje o mais popular dos artistas pintores. O leitor está imaginando quem poderia ser. Picasso? Manet? Monet? Van Gogh? Rembrandt? Leonardo? Ah, então ainda não compreendeu o espírito britânico atual. O pintor e artista “mais importante de todos os tempos” na Inglaterra de hoje chama-se Banksy. O leitor não se surpreenda se não o conhece. Ele é literalmente um artista de rua e nem esse é seu nome de batismo, pois ninguém o conhece pessoalmente, exceto os leiloeiros que pagam suas faturas. Como um fantasma pictórico, de vez em quando ele aparece, surpreendendo seu público na forma de um novo painel pintado num muro entre duas estações de metrô ou na garage de um prédio pouco frequentado. As obras são todas doadas para as prefeituras locais, aumentando seu prestígio de artista e doador. Em geral, os painéis têm um conteúdo encantador, humano e sensibiliza ao primeiro olhar. Não dão o mínimo trabalho de uma elaboração intelectual para o grande público compreendê-los. Qualquer expectador com dois neurônios funcionando assimila suas imagens em menos de três segundos.

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É o mesmo artista que, tendo vendido uma obra no leilão da Christie`s de Londres por dois milhões de libras há um ano, disparou um controle remoto dentro da sala do leiloeiro, acionando um mecanismo montado na peça, destruindo a moldura e parte da arte arrematada. Dizem que a obra, depois daquele acionamento tão artístico, passou a valer o dobro da quantia paga de início.

“The Guardian”, jornal inglês de prestígio, questiona o status dado ao pintor e pergunta se eles – artista e obras – durarão cem anos. Este articulista pergunta se os compradores de obras tão misteriosas do ponto de vista comercial resistirão ou se ambos somente serão lembrados quando estivermos escrevendo o bestiário do nosso século no ano 2100.

Banksy faz parte de um grupo de pintores e escultores que resolveram ganhar dinheiro, muito dinheiro com arte. Receberam a benção ou o “nihil obstat” de grandes galeristas, investidores de arte interessados em comprar barato e vender caro posteriormente como se arte fosse uma “blue chip” da Bolsa de Valores. A consagração veio com os preços alcançados. Resta saber se dentro de cem anos eles serão tão importantes quanto aqueles artistas citados no primeiro parágrafo ou se não passarão de uma notinha de pé-de-página. Enquanto 2100 não chega, eles vão faturando...faturando...faturando.

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