Fonte: Barbacena Online

arte-rupestre-artigos

O ser humano desde que tomou ‘consciência de seu Ser’ sentiu necessidade, de muito mais do que seus instintos exigiam (fome, sede, abrigo, proteção), da Arte. Com isto surgiu a figura do artista, que ao longo da história assumiu diversos estados.

Nos primórdios foi aquele que, em cavernas, conseguia fazer fluir a caça. Depois era aquele que conseguia se comunicar com o mundo dos espíritos (surgia neste momento a figura do sacerdote).

Tornou-se artífice em busca do belo no mundo helênico e romano para logo depois ser o artesão da Paixão de Cristo nos Mosteiros e Catedrais.

Na Renascença, quando ousadamente, enquanto mestre, sagrou seu nome em suas obras. A assinatura do artista virou marca, virou etiqueta. E ele tornou-se protegido e financiado por algum mecenas (Nobre ou Clérigo).

As Revoluções Burguesas também alterariam o estado do artista. Agora sem a proteção da Igreja e da Nobreza, o artista se viu em dificuldades. Foi quando, então, no Século 19, na Europa surgiram os Salões cuja finalidade era proteger as Artes Plásticas e promover os recém artistas a fazer nome, a conquistar mercado e a ter o aval do especialista em arte – o Crítico de Arte.

Desta forma, na Contemporaneidade, o mundo da Arte se faz. Ou seja, o Artista, aquele que produz o objeto; o que tem um discurso sobre o produto, o Crítico de Arte; e os lugares onde o objeto é mostrado ao público, que são os salões, museus, galerias e exposições.

A – O Artista Hoje (no Brasil)

Antes de falarmos do produtor temos que falar do produto: Arte. Usando estes termos, produtor e produto, pode parecer que estamos sendo frios, racionais e que tratamos de algo do mundo dos negócios, da economia. Estamos sim nos referindo a isto também, porque no mundo capitalizado e globalizado arte é algo que também pertence ao mercado. Mas a razão principal é de tirar do imaginário que arte é coisa somente do plano espiritual ou da fruição dos sentidos ou do fluir. Arte e produção advem das habilidades e competências do fazer, do produzir. Foi-se o tempo que arte era vista como um dom e seu produtor, alguém abençoado por alguma entidade.

A arte vem da necessidade que o homem sente de criar. De transformar o objeto e de dar a ele uma outra função que não o de sua funcionalidade comum (isto ocorreu sobretudo após as vanguardas do século 20). Além da necessidade de criação que move a Arte, ela é feita pela necessidade de despertar emoção, sentimentos e releitura da vida. Portanto, a Arte também é comunicação.

Uma vez tirada a Arte de seu pedestal místico e mítico, e sabedores de que ela é o desenvolvimento, o exercício, de habilidades e competências leiamos o quê a historiadora de arte e crítica, Radha Abramo, nos diz sobre o artista, especificamente o artista brasileiro: “O que falta ao artista brasileiro é pesquisa. Arte se faz com pesquisa, conhecimento. Mas para pesquisar, o artista precisa ter material, precisa encontrar registros do que ocorreu na história. E no Brasil, temos poucas literaturas para pesquisar”. (BAIERL).

Estas palavras são endossadas pelo articulista SCRENCI, “Cada vez mais se exige do artista uma qualificada formação teórica e prática, que favoreça o desenvolvimento de uma criação original livre de resultados óbvios e estereotipados”.

Nelson Screnci afirma ainda, que no Brasil, o artista plástico é confundido com o artesão. Apesar de haver associações das classes de artistas, falta-lhes os sindicatos, os registros em carteiras e o que é pior e que motiva esta confusão: a atividade de artista plástico ainda não foi legalmente reconhecida pelos meios oficiais.

O mesmo articulista aconselha: “Uma grande saída para quem está debatendo nos difíceis começos de uma carreira artística é o apoio de um trabalho coletivo... E desta forma invalidar a triste idéia romântica que vê no sofrimento uma condição necessária ao aparecimento de uma obra-prima” (grifo nosso).

E ele salienta que, no Brasil de hoje, quando assistimos e os dados estatísticos confirmam para o aumento da expectativa de vida e da faixa etária considerada da terceira idade, “muitas carreira brilhantes começaram na maturidade. É quando temos mais disponibilidade para assumir uma ocupação comprometida apenas com o prazer. E experiência de vida para transformar essa atividade uma grande paixão”. E ainda que “jovens artistas não são necessariamente artistas jovens”, porque “construir uma obra é um investimento de tempo e um ato de abnegação”.

A historiadora de arte Radha Abramo diz que, no campo das artes plásticas, “acho que o forte da arte brasileira está na escultura e na instalação”.

Para quem é leigo a instalação, segundo a Wikipedia, “é uma manifestação artística onde a obra é composta de elementos organizados em um ambiente... Uma das possibilidades da instalação é provocar sensações... ou coisas que simplesmente chamem a atenção do público ao redor. A primeira instalação artística foi o ‘Merz Bou”, ou ‘Casa Merz’, o apartamento do poeta e artista plástico Kurt Shwitters, transformado por ele em obra de arte, de 1923, na cidade alemã de Hannover”.

B – O Crítico de Arte

Já que a Arte é produção, o artista não produz para si. Ele produz para mostrar. E é por isto que a Arte é a releitura que o artista e o observador, cada um com sua decodificação, sua bagagem, sua alfabetização artística faz da vida.

O crítico de Arte é aquele que se acha melhor entendido para dizer se o quê se produziu foi uma boa mostragem ou não, se o artista soube se expressar, soube inovar, soube usar bem a linguagem artística.

Élson Screnci justifica argumentando que “a necessidade imperiosa de transformar a matéria mantendo aí uma espécie de diálogo com o mundo da sensibilidade é o que dá autenticidade à arte. Isto não pode ser compreendido inteiramente por quem está de fora e pouco envolvido numa atividade... É conveniente procurar a aprovação do espectador... A opinião dos especialistas, por outro lado, nem sempre pode ser seguida à risca, já que a História da Arte vem demonstrando que geralmente não são bons profetas”.

Radha Abramo em sua entrevista à Silvana Baierl diz que “O Crítico não pode julgar o que realmente é uma obra de arte ou não”. Entretanto entre esta fala, ela faz duas considerações: “... Você pode absorver tudo, conhecer todas as formas de arte, mas com a consciência de selecionar o que é melhor. É ver tudo, conhecer tudo e eliminar o que não presta”. E depois acrescenta, “há artistas que fazem um trabalho fascinante. Outros trabalham uma arte pública, exposta na rua. Ambas têm seu valor e não podemos afirmar que arte dos museus é mais verdadeira do que vemos nas ruas”. Adverte a própria crítica de arte o seu jeito de trabalhar a crítica. Acredito na conformidade heterogênea da arte... Cada um de nós é diferente, dentro do que somos”.

Vem-nos uma indagação: e ao crítico, quem julga? Como se faz um especialista? Seu aval, seu crivo é infalível? Até que ponto ele é “puro” em seu julgamento? Até onde o seu profissionalismo passa pelas empatias de seu ser?

O especialista, o crítico de arte, se faz pelo acúmulo de seus estudos, interesses, preparos, pesquisas e experiência. Apesar de toda sua formação ele não é infalível. Ele também erra e é influenciado. Como Nelson Screnci disse a História da Arte já provou que os especialistas não são bons profetas ao afirmar e autenticar ou não os artistas.

E que eles podem errar “principalmente quando indicam a necessidade de enquadrar o trabalho em ‘modas’ ou ‘tendência’, o que se por um lado pode oferecer à criação um lugar ao sol, por outro não é suficiente para assegurar a permanência de uma obra consistente”.

C – Os Lugares (Espaço) da Arte

Se quem faz, faz para o produto ser mostrado, mostrar onde? Quais são os lugares? Em que espaços se vêem Arte?

Os lugares e os espaços são vários, porque a Arte cabe em todo lugar.

Herança do século 19 e 20, ainda há os salões com premiações. As Galerias e os Museus de Arte com seus curadores.

Há os espaços públicos. Há as ruas. Radha Abramo nos historia uma de suas experiências relatando que “no final dos anos 70, organizei a primeira exposição a céu aberto, na ocasião da inauguração da Praça da Sé, em São Paulo. Foram 17 obras, expostas ao público. Se a crítica não gostou ao que conhecemos como Projeto Arte no Metrô, o qual ainda não foi totalmente concluído. Ainda temos obras para colocar nas estações”...

Vemos assim que no Brasil iniciativas estão sendo tomadas. Falta talvez vencermos nossa timidez e seguir este exemplo de levar a arte para os espaços. Isto ajudaria aos novos artistas e educaria o povo a conviver com a arte.

Falta o artista vencer seus próprios limites, o poder público incentivar mais, haver a coletivização de ações em prol de um mundo, um Brasil mais voltado para a Arte. Porque a Arte sensibiliza e vai mais longe. Ela levanta questionamentos e se assim é a Arte politiza, transforma, desperta conscientização.

Terminamos dizendo que Nelson Screnci salienta que “... ainda há muito espaço no Brasil para quem quer criar. É um país em permanente construção, com muitas paredes brancas e vazias a serem preenchidos... Quem quer fazer faz, com autodeterminação e independência: inventa espaços, defende suas idéias, conquista um público e remove montanhas”.

Portanto, o Brasil, o público, espera que você artista mostre suas habilidade e competências. Queremos ver você mostrando sua Arte. Quanto a você, poder público, secretários de cultura, queremos ver mais ações, promoções de eventos, iniciativas (e menos desculpas dizendo que as verbas não são suficientes). Quanto a você, empresários, gostaríamos de vê-los fazendo parcerias com o poder público ou incentivando algum artista ou escola de arte e ateliês. Pois, afinal Arte também pertence ao mundo dos negócios e é sinal de inteligência.

Educando o povo, influenciando o imaginário através da arte e incentivando a cultura é que o país cresce e se modifica para melhor. Forma-se assim a Cidadania e reforça a sua soberania.

Tomemos nossas atitudes acreditando em nosso país e creditando em quem pode fazer mais por ele despertando e sensibilizando consciências.

REFERÊNCIAS:

1) BAIERZ, Silvana. Radha Abramo—um paralelo entre arte e crítica. In. Consulte Arte e Decoração. Ano XIII. 2004. Ed. Nº 34.

2) SCRENCI, Nelson. Jovens Artistas, Novos Espaços. In. Consulte Arte e Decoração. Ano III. 2004. Ed. Nº 34.