Itália diz que Museu Getty deve devolver obras em disputa

 

Por Silvia Alosi

 

ROMA (Reuters) - A Itália disse na quinta-feira ao Museu J. Paul Getty, de Los Angeles, que este terá que devolver todas as obras de arte de seu acervo que são objeto de disputa. Disse também que a era em que museus respeitados podiam expor antiguidades roubadas sem sofrer censura já ficou para trás.

 

Mas autoridades italianas reconheceram que há pouco que Roma poderá fazer se o museu se ativer a sua decisão de devolver apenas algumas das obras.

 

"Um grande museu pode expor obras que evidentemente foram roubadas?", disse a jornalistas o ministro da Cultura italiano, Francesco Rutelli.

 

"Durante tempo demais o mundo aceitou com indiferença a existência de um grande comércio internacional de antiguidades roubadas. Agora a era da tolerância tácita chegou ao fim."

 

As negociações de meses foram suspensas esta semana quando o diretor do Getty, Michael Brand, disse ao ministro da Cultura, em carta, que seu museu vai devolver apenas 26 objetos de uma lista de 46 que a Itália quer de volta.

 

A campanha da Itália para recuperar antiguidades roubadas do país já rendeu acordos com outras instituições americanas, como o Metropolitam Museum of Art, de Nova York, e o Boston Museum of Fine Arts.

 

Em suas discussões com o Getty, Roma insistiu especialmente na devolução de uma escultura de bronze de alto valor conhecida como a Estátua de um Jovem Vitorioso e uma estátua de calcário que se acredita que representa Afrodite.

 

Em sua carta, o Getty disse que não pretende devolver a estátua de 2.500 anos, argumentando que a Itália não tem mais direitos sobre ela porque ela foi encontrada em águas internacionais em 1964.

 

Quanto à escultura de Afrodite, o museu disse que as evidências apresentadas até agora são inconclusivas e que são necessárias mais pesquisas.

 

Rutelli discordou dos dois pontos. "As evidências são avassaladoras", disse ele. "Desde o ponto de vista legal, não há dúvida alguma."

 

Lendo um documento legal em voz alta, o ministro disse que a "Estátua de um Jovem Vitorioso" foi encontrado por pescadores locais em águas territoriais da Itália perto de Fano, na costa Adriática.

 

Em seguida, ela foi enterrada, antes de trocar de mãos várias vezes até ser contrabandeada para fora do país e adquirida pelo Museu Getty.

 

Em um comunicado em resposta aos comentários de Rutelli, o Getty lamenta o "ultimato" da Itália. "Nós permanecemos abertos a retomar as discussões com o ministério", disse.

 

As autoridades italianas dizem que estão investigando evidências segundo as quais outras 250 peças roubadas teriam acabado no acervo do museu. "Temos informações sobre dezenas de outras obras", disse Rutelli, mostrando uma pilha de fotos de objetos disputados.

 

O caso Getty se complica pelo julgamento em Roma de sua ex-curadora Marion True, acusada de ter comprado antiguidades italianas roubadas, ciente de que eram roubadas. Os 46 objetos que a Itália reivindica fazem parte desse processo.

 

Na terça-feira, um promotor grego também acusou True de ter comprado, com conhecimento de causa, um artefato antigo que foi escavado e retirado da Grécia ilegalmente há 13 anos.