1910 - 1987

O impacto do modernismo

 Lula Cardoso Alves Aires é natural de Recife, Estado de Pernambuco, onde nasceu em 1910 e faleceu em 1987.

 Iniciou sua aprendizagem de desenho e pintura aos doze anos, na cidade natal, com Heinrich Moser.

 

 Aos 15 anos, seguiu para a França, e, em Paris, sofreu a influência do Art Deco, muito nítida em guaches e desenhos que fez na época. De mente aberta ao aprendizado, recebeu também o o impacto da arte moderna, em particular das teorias puristas de Ozenfant e Le Corbusier.

 No Rio, com grandes mestres da pintura

 Em 1926, de novo no Brasil e radicado no Rio de Janeiro, cidade onde permaneceria até 1930, tornou-se aluno-ouvinte da Escola Nacional de Belas-Artes, na classe de modelo vivo de Rodolfo Amoedo, freqüentando ainda aulas particulares de Carlos Chambelland.

 Para prover ao próprio sustento, fez cenografias para comédias e peças teatrais, de certo modo contribuindo para a renovação do gênero.

 O regionalismo por tema

 A ligação com Chambelland, pintor realista que vivera alguns anos em Pernambuco, ali realizando diversas obras de conotação fortemente regionalista, pode ter contribuído de modo preponderante para o amadurecimento estilístico do jovem Lula.

 Retornando em começos da década de 1930 a Recife, ali passou a se interessar vivamente pelas manifestações da arte popular nordestina, participando, em 1934, do 1º Congresso Afro-Brasileiro, organizado por Gilberto Freire.

 Entre 1937 e 1944 Lula tornou-se co-administrador da usina de açúcar de propriedade da família, passando a viver então no interior do Estado.

 Essa longa permanência no sertão iria sedimentar-lhe ainda mais o mundo de idéias, confirmando-o no caminho escolhido.

 Surgem, em suas pinturas da época, temas como o bumba-meu-boi e outros festejos e folguedos folclóricos, que interpreta numa atmosfera surrealisante.

 Murais em profusão

 O próprio artista, aliás, num depoimento de 1971 à Tribuna da Bahia, explica seu relacionamento com o Surrealismo e outros ismos modernos:

 «A influência do Surrealismo sobre a minha pintura se fez em termos ideais. A minha intimidade com o Surrealismo pairou sempre no plano ideal, na aproximação do pensamento, no mesmo sentimento de absurdo dentro da realidade, na criação de uma pintura desligada da matéria. A minha pintura é uma realidade surreal.»

 A partir de 1946, graças a uma seqüência de exposições efetuadas em Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, a pintura regionalista de Lula começa a obter reconhecimento nacional, e seu nome torna-se alvo de vivo interesse crítico.

 Do ano seguinte, 1947, data seu primeiro mural, realizado em Recife, chegando a mais de cem, espalhados por cidades como a própria Recife, e ainda Salvador, Natal, Maceió, Penedo, Belém, Fortaleza, São Paulo e Santos.

 Precursor das «Escolinhas»

 Também em 1947 o pintor fundou em Recife um ateliê para crianças, fornecendo-lhes lápis e papel e permitindo que trabalhassem na mais total liberdade.

 Essa iniciativa pioneira, de curta duração embora, de certo modo preludiou a Escolinha de Arte do Brasil, criada em 1948 no Rio de Janeiro por seu coestaduano Augusto Rodrigues.

 Exposições

 Lula Cardoso Aires efetuou diversas individuais no Brasil, destacando-se:

 1952 - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

 1960 - Museu de Arte de São Paulo.

 1968 - Museu de Arte Moderna da Bahia.

 1968 - Retrospectiva em Recife-PE.

 1972 - Retrospectiva em Brasília.

 Também foi constante a sua participação em coletivas dentro e fora do Brasil, como a Bienal de São Paulo (1951 a 1961), o Salon de Mai parisiense de 1952 e a mostra antológica de Artistas Brasileiros no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, nesse mesmo ano.

 Durante cerca de 25 anos Lula foi também professor de pintura na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco.

 Regionalismo, com Abstrato e Surreal

 Eivada de elementos populares, estilisticamente marcada pelo Surrealismo e pelo Abstracionismo, a um e outro tomando de empréstimo alguns de seus melhores recursos, a pintura de Lula não se importou com modismos.

 Muito pelo contrário, permaneceu fiel às suas raízes regionais, através das quais buscou atingir o brasileiro e o universal.

 Disse a seu respeito Gilberto Freyre, em síntese feliz:

 «A arte de Lula Cardoso Aires vem sendo uma aventura no tempo - toda uma sucessão de experimentos, dos realistas aos abstratos, que se exprimem nos arrojos de síntese de sua pintura atual, depurada tanto de folclore e de anedota como de ismos subeuropeus e apoiada em estudo intenso e honesto dos homens, dos animais e das coisas de sua região.»

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